MARAVILHA NO CEARÁ
Para quem é acostumado a vê-la sempre com maquiagem exótica, peruca e balangandãs, a imagem de uma Elke Maravilha de cara lavada impressiona. O que não muda é a sinceridade com que ela fala de sua vida e do que pensa sobre o mundo. Elke esteve no Ceará para gravar um curta que alerta sobre a hanseníase.
A APARÊNCIA MUDOU, MAS A VOZ CONTINUA A MESMA. APESAR DE VESTIR UMA BLUSINHA DE ALGODÃO BRANCA, USAR CABELOS CURTOS E SÓ UM BATONZINHO, BASTA ABRIR A BOCA PARA A IMAGEM ESPALHAFATOSA DESSA RUSSA BEM BRASILEIRA LOGO VIR À TONA. AFINAL, ELKE GRUNUPP CONTINUA MARAVILHA! A DISCRIÇÃO É CARACTERÍSTICA DE SUA PERSONAGEM LÚCIA, NO CURTA "FRANCISCA CARLA - NARRATIVAS E DEVOÇÃO", UM PROJETO DA ASSOCIAÇÃO CULTURA DE AMIGOS DA ARTE (GARATUJA), DE TIANGUÁ.
O FILME CONTA A HISTÓRIA DE UMA EMPREGADA DOMÉSTICA CEARENSE QUE FOI DIAGNOSTICADA, NO SÉCULO PASSADO, COM HANSENÍASE. POR CAUSA DO PRECONCEITO, FRANCISCA CARLA FOI BANIDA DO CONVÍVIO SOCIAL E OBRIGADA A MORAR SOZINHA NA MATA. ELA MORREU DE FOME E, HOJE, É CONSIDERADA MILAGREIRA. O ROTEIRO, DE CARA, ENCANTOU A ATRIZ/INTÉRPRETE MUSICAL/ APRESENTADORA E MODELO, JUSTAMENTE POR SEU ENVOLVIMENTO EM CAMPANHAS PARA ESCLARECER SOBRE A HANSENÍASE.
"RECEBI O CONVITE PARA PARTICIPAR HÁ DOIS ANOS E TOPEI NA HORA. O ROBÉRIO BELCHIOR, PRODUTOR DO FILME, É MEU AMIGO E SABE QUE TRABALHO COM ´LEPRA´ HÁ ANOS. ESTOU MUITO FELIZ COM ESSE PROJETO. NUNCA FIZ FILME AQUI. É MINHA PRIMEIRA VEZ. ACREDITO QUE É UM FILME PARA PRÊMIO. É DOS CURTAS QUE NASCEM GRANDES PRODUÇÕES, ALÉM DE PERMITIR QUE O MUNDO VEJA OS NOVOS TALENTOS DAQUI", DIZ, EMPOLGADA.
MADRINHA DO MOVIMENTO DE REINTEGRAÇÃO DE PESSOAS ATINGIDAS PELA HANSENÍASE (MORHAN), ELKE ACEITOU PARTICIPAR DO FILME SEM RECEBER NENHUM CACHÊ. "É INADMISSÍVEL QUE O BRASIL SEJA CAMPEÃO MUNDIAL DE CASOS DE HANSENÍASE. AINDA MAIS COM UM REMÉDIO QUE VEM DE GRAÇA. É PRECISO CUTUCAR AS PESSOAS. FUI IMIGRANTE. O BRASIL ME DEU TANTO. EU SÓ POSSO QUERER RETRIBUIR DE ALGUMA FORMA AS COISAS QUE RECEBI NESSE PAÍS", EXPLICA.
E É ESSE ENGAJAMENTO SOCIAL QUE FEZ COM QUE ELKE SE TORNASSE MADRINHA DE VÁRIAS LUTAS, MUITAS DELAS DE GRUPOS QUE SOFREM PRECONCEITO, COMO AS PROSTITUTAS. "NÃO QUIS SER MÃE PORQUE EU NÃO DEVIA. NÃO SABERIA EDUCAR UMA CRIANÇA. FIZ UM ABORTO PARA EVITAR CRIAR UM MONSTRINHO. SERIA UM DESASTRE. DEVE SER POR ISSO QUE EU ACABO ADOTANDO MUITOS FILHOS, SENDO MADRINHA DE TANTA GENTE", REFLETE.
ELKE TAMBÉM REFORÇA QUE, LUTANDO EM CAUSAS QUE BENEFICIEM O PRÓXIMO CONSEGUE SE AMAR MAIS. "CONVERSANDO COM LEONARDO BOFF, PERCEBI QUE O OPOSTO DO AMOR NÃO É O ÓDIO E SIM A INDIFERENÇA. AS PESSOAS HOJE SÃO MUITO INDIFERENTES COM OS OUTROS. É PRECISO SE IMPORTAR COM OS OUTROS PARA EXERCITAR O AMOR. MAS, O SER HUMANO NÃO DESCOBRIU NEM O RESPEITO AINDA PELO OUTRO, QUANTO MAIS O AMOR", CUTUCA.
O FILME CONTA A HISTÓRIA DE UMA EMPREGADA DOMÉSTICA CEARENSE QUE FOI DIAGNOSTICADA, NO SÉCULO PASSADO, COM HANSENÍASE. POR CAUSA DO PRECONCEITO, FRANCISCA CARLA FOI BANIDA DO CONVÍVIO SOCIAL E OBRIGADA A MORAR SOZINHA NA MATA. ELA MORREU DE FOME E, HOJE, É CONSIDERADA MILAGREIRA. O ROTEIRO, DE CARA, ENCANTOU A ATRIZ/INTÉRPRETE MUSICAL/ APRESENTADORA E MODELO, JUSTAMENTE POR SEU ENVOLVIMENTO EM CAMPANHAS PARA ESCLARECER SOBRE A HANSENÍASE.
"RECEBI O CONVITE PARA PARTICIPAR HÁ DOIS ANOS E TOPEI NA HORA. O ROBÉRIO BELCHIOR, PRODUTOR DO FILME, É MEU AMIGO E SABE QUE TRABALHO COM ´LEPRA´ HÁ ANOS. ESTOU MUITO FELIZ COM ESSE PROJETO. NUNCA FIZ FILME AQUI. É MINHA PRIMEIRA VEZ. ACREDITO QUE É UM FILME PARA PRÊMIO. É DOS CURTAS QUE NASCEM GRANDES PRODUÇÕES, ALÉM DE PERMITIR QUE O MUNDO VEJA OS NOVOS TALENTOS DAQUI", DIZ, EMPOLGADA.
MADRINHA DO MOVIMENTO DE REINTEGRAÇÃO DE PESSOAS ATINGIDAS PELA HANSENÍASE (MORHAN), ELKE ACEITOU PARTICIPAR DO FILME SEM RECEBER NENHUM CACHÊ. "É INADMISSÍVEL QUE O BRASIL SEJA CAMPEÃO MUNDIAL DE CASOS DE HANSENÍASE. AINDA MAIS COM UM REMÉDIO QUE VEM DE GRAÇA. É PRECISO CUTUCAR AS PESSOAS. FUI IMIGRANTE. O BRASIL ME DEU TANTO. EU SÓ POSSO QUERER RETRIBUIR DE ALGUMA FORMA AS COISAS QUE RECEBI NESSE PAÍS", EXPLICA.
E É ESSE ENGAJAMENTO SOCIAL QUE FEZ COM QUE ELKE SE TORNASSE MADRINHA DE VÁRIAS LUTAS, MUITAS DELAS DE GRUPOS QUE SOFREM PRECONCEITO, COMO AS PROSTITUTAS. "NÃO QUIS SER MÃE PORQUE EU NÃO DEVIA. NÃO SABERIA EDUCAR UMA CRIANÇA. FIZ UM ABORTO PARA EVITAR CRIAR UM MONSTRINHO. SERIA UM DESASTRE. DEVE SER POR ISSO QUE EU ACABO ADOTANDO MUITOS FILHOS, SENDO MADRINHA DE TANTA GENTE", REFLETE.
ELKE TAMBÉM REFORÇA QUE, LUTANDO EM CAUSAS QUE BENEFICIEM O PRÓXIMO CONSEGUE SE AMAR MAIS. "CONVERSANDO COM LEONARDO BOFF, PERCEBI QUE O OPOSTO DO AMOR NÃO É O ÓDIO E SIM A INDIFERENÇA. AS PESSOAS HOJE SÃO MUITO INDIFERENTES COM OS OUTROS. É PRECISO SE IMPORTAR COM OS OUTROS PARA EXERCITAR O AMOR. MAS, O SER HUMANO NÃO DESCOBRIU NEM O RESPEITO AINDA PELO OUTRO, QUANTO MAIS O AMOR", CUTUCA.
Palco, cinema e dança
Em cartaz com o musical "Elke - do Sagrado ao Profano", ela se prepara agora para viajar pelo Brasil. A previsão é de começar a excursionar ainda este ano. Ela também grava um documentário sobre sua vida. "Já fizeram dois curtas sobre minha história. Agora estou num longa. Acho que o nome será Elke (risos)".
Sem parar um instante, a atriz conta de um monólogo que vai estrelar no teatro, no segundo semestre, sobre a psiquiatra e ativista política Nise da Silveira. "Ela foi minha amiga. Uma mulher brilhante e forte, que foi presa junto com a Pagu. O melhor é que fui convidada para interpretá-la sem que as pessoas soubessem que éramos amigas. E nunca imaginei fazer o papel porque ela era nordestina e tinha um tipo físico bem diferente. Mas me sinto orgulhosa", antecipa.
Que fôlego, hein. Elke! Tem tempo até para trabalhos sociais. E ela responde, irreverente: "Sociais sim, sexuais não". Tá sem tempo? "Tempo a gente arranja. Tô é sem vontade mesmo. Estou priorizando a cabeça. Além do mais, minha bunda já tá caída (risos)". Obrigada, Elke! "De nada, criança".
O FILME Francisca Carla deve ser lançado ainda este ano.
Em cartaz com o musical "Elke - do Sagrado ao Profano", ela se prepara agora para viajar pelo Brasil. A previsão é de começar a excursionar ainda este ano. Ela também grava um documentário sobre sua vida. "Já fizeram dois curtas sobre minha história. Agora estou num longa. Acho que o nome será Elke (risos)".
Sem parar um instante, a atriz conta de um monólogo que vai estrelar no teatro, no segundo semestre, sobre a psiquiatra e ativista política Nise da Silveira. "Ela foi minha amiga. Uma mulher brilhante e forte, que foi presa junto com a Pagu. O melhor é que fui convidada para interpretá-la sem que as pessoas soubessem que éramos amigas. E nunca imaginei fazer o papel porque ela era nordestina e tinha um tipo físico bem diferente. Mas me sinto orgulhosa", antecipa.
Que fôlego, hein. Elke! Tem tempo até para trabalhos sociais. E ela responde, irreverente: "Sociais sim, sexuais não". Tá sem tempo? "Tempo a gente arranja. Tô é sem vontade mesmo. Estou priorizando a cabeça. Além do mais, minha bunda já tá caída (risos)". Obrigada, Elke! "De nada, criança".
O FILME Francisca Carla deve ser lançado ainda este ano.
Participações especiais no curta
Além da Elke Maravilha, Ney Matogrosso e Vinícius de Oliveira também aceitaram participar do curta sobre a vida de Francisca Carla. Sem receber nenhuma quantia em dinheiro, os três se engajaram pela oportunidade de diminuir preconceitos que cercam os doentes de hanseníase.
Além da Elke Maravilha, Ney Matogrosso e Vinícius de Oliveira também aceitaram participar do curta sobre a vida de Francisca Carla. Sem receber nenhuma quantia em dinheiro, os três se engajaram pela oportunidade de diminuir preconceitos que cercam os doentes de hanseníase.
Estudante de cinema, Vinícius de Oliveira veio pela primeira vez ao Ceará e embarcou no projeto do curta. "O roteiro me interessou bastante. Saí de São Paulo para fazer esse filme com o intuito de ajudar na luta contra a hanseníase", conta.
O jovem, descoberto por Fernando Meirelles quando ainda era criança e que se tornou estrela ao contracenar com Fernanda Montenegro, no filme "Central do Brasil", argumenta sobre a importância da produção de filmes que retratem a cultura brasileira. "Acho fundamental mostrar nosso país. Tudo de bom e ruim, suas crenças, costumes. E esse é um filme que faz isso. É com essa característica nacional, que quero fazer nos meus filmes", confessa.
No curta, ele interpreta um médico da atualidade que mora na cidade de Francisca Carla. Com pouco tempo, confessa que não pôde fazer muito laboratório. "Foi tudo muito de repente, mas aqui aprendi muitas coisas sobre a hanseníase e sobre a história dessa mulher. Fazer esse filme é uma forma muito bacana de ajudar a sociedade com informação. Quero me inteirar e me filiar a alguns órgãos que trabalham com a hanseníase. Será uma forma de atuar em campanhas", promete.
O ator se diz tímido e, por mais que queira ainda passar alguns anos se dedicando à carreira, planeja mesmo é ir para trás das câmeras. "Quero ser diretor. Mas, nesse momento, tenho que me focar na profissão de ator. Preciso ganhar dinheiro para sobreviver até lá. Sabemos que é muito difícil a carreira", pondera.
O último longa em que Vinícius atuou foi o premiado "Linha de passe", mas ele conta que já participou de mais três filmes que ainda serão lançados. Em um, foi assistente de câmera. Nos outros, o "A hora e a vez de Augusto Matraga" e "As duas estrelas" atuou. "Eu me interesso em conhecer todos os processos de produção. Acho importante ter todas as visões", observa.
No curta, ele interpreta um médico da atualidade que mora na cidade de Francisca Carla. Com pouco tempo, confessa que não pôde fazer muito laboratório. "Foi tudo muito de repente, mas aqui aprendi muitas coisas sobre a hanseníase e sobre a história dessa mulher. Fazer esse filme é uma forma muito bacana de ajudar a sociedade com informação. Quero me inteirar e me filiar a alguns órgãos que trabalham com a hanseníase. Será uma forma de atuar em campanhas", promete.
O ator se diz tímido e, por mais que queira ainda passar alguns anos se dedicando à carreira, planeja mesmo é ir para trás das câmeras. "Quero ser diretor. Mas, nesse momento, tenho que me focar na profissão de ator. Preciso ganhar dinheiro para sobreviver até lá. Sabemos que é muito difícil a carreira", pondera.
O último longa em que Vinícius atuou foi o premiado "Linha de passe", mas ele conta que já participou de mais três filmes que ainda serão lançados. Em um, foi assistente de câmera. Nos outros, o "A hora e a vez de Augusto Matraga" e "As duas estrelas" atuou. "Eu me interesso em conhecer todos os processos de produção. Acho importante ter todas as visões", observa.
FIQUE POR DENTRO
Bastidores do filme "Francisca Carla- Narrativas de Devoção"
Bastidores do filme "Francisca Carla- Narrativas de Devoção"
O curta "Francisca Carla - Narrativas e devoção" conta a saga de uma empregada doméstica que teve sua vida interrompida por uma doença, que no passado era conhecida como lepra. Francisca Carla, depois que teve o diagnóstico da hanseníase, passou a viver em total isolamento até a sua morte, com 43 anos de idade.
Segundo relatos da época, ela soube da doença durante um almoço de família, na casa onde trabalhava.
Portadora da doença, ela foi segregada do meio social numa época em que o estigma criado sobre o mal causava repulsa aos enfermos. O único modo de tentar controlar a doença era confinando os leprosos. Como em Tianguá na década de 50 não existiam leprosários, Francisca Carla foi isolada, no meio da mata, onde passou o resto de sua vida.
Durante seu exílio, ela sobreviveu de doações que eram deixadas por pessoas, que muita vezes transitavam pelo caminho uma única vez por semana. Hoje, a casa onde Francisca viveu recebe várias pessoas que rezam por ela e fazem promessas. Muitos dizem que tiveram graças alcançadas.
Juntando depoimentos de pessoas que tiveram contato com Francisca Carla, documentos e objetos da época, além de fatos históricos, os produtores culturais Natal Portela, Márcio de Araújo, Daniel Sá, Santiago de Sousa, Divaneide Portela e Robério Belchior gravaram as cenas do filme há três semanas. O projeto existe desde 2008 e sofreu atrasos devido a entraves no recebimento de verba. "Temos um recurso de R$ 80 mil assinado pelo Comitê Gestor do FEC (Fundo Estadual de Cultura) assinado desde julho do ano passado que ainda não recebemos. Mas estamos levando com o apoio do Ministério da Cultura e da Secretaria de Saúde do Estado", desabafa Robério Belchior.
Karine Zaranza
Repórter
Matéria publicada no Caderno Zoeira - Diário do Nordeste
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=766899
Segundo relatos da época, ela soube da doença durante um almoço de família, na casa onde trabalhava.
Portadora da doença, ela foi segregada do meio social numa época em que o estigma criado sobre o mal causava repulsa aos enfermos. O único modo de tentar controlar a doença era confinando os leprosos. Como em Tianguá na década de 50 não existiam leprosários, Francisca Carla foi isolada, no meio da mata, onde passou o resto de sua vida.
Durante seu exílio, ela sobreviveu de doações que eram deixadas por pessoas, que muita vezes transitavam pelo caminho uma única vez por semana. Hoje, a casa onde Francisca viveu recebe várias pessoas que rezam por ela e fazem promessas. Muitos dizem que tiveram graças alcançadas.
Juntando depoimentos de pessoas que tiveram contato com Francisca Carla, documentos e objetos da época, além de fatos históricos, os produtores culturais Natal Portela, Márcio de Araújo, Daniel Sá, Santiago de Sousa, Divaneide Portela e Robério Belchior gravaram as cenas do filme há três semanas. O projeto existe desde 2008 e sofreu atrasos devido a entraves no recebimento de verba. "Temos um recurso de R$ 80 mil assinado pelo Comitê Gestor do FEC (Fundo Estadual de Cultura) assinado desde julho do ano passado que ainda não recebemos. Mas estamos levando com o apoio do Ministério da Cultura e da Secretaria de Saúde do Estado", desabafa Robério Belchior.
Karine Zaranza
Repórter
Matéria publicada no Caderno Zoeira - Diário do Nordeste
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=766899
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